Procedimentos de reparação, feitos para reconstruir o corpo e a autoestima, cresceram nos últimos anos
Ainda hoje, quando se menciona a expressão “cirurgia plástica”, o pensamento costuma focar direto a estética. E é isso o que ela faz mesmo. Algumas vezes, no entanto, a intenção não é somente tornar alguma parte do corpo mais bonita ou harmônica – e sim devolver a uma pessoa a alegria com o próprio corpo. É o que fazem as cirurgias plásticas reparadoras e reconstrutivas.
Esse tipo de operação mais frequentemente inclui regiões do corpo afetadas pelo câncer, como as reconstruções de mamas e devido ao câncer de pele, modificações nas orelhas (reparar orelhas “de abano”), tratamento para síndromes congênitas, reconstruções após acidentes domésticos e urbanos diversos, para vítimas de queimaduras ou tratamento de cicatrizes patológicas (queloides e cicatrizes).
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, os números aumentaram em todos os níveis: em 2009 foram realizadas 629 mil cirurgias plásticas no Brasil, o que nos colocava no segundo lugar no mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Dessas cirurgias, 27% eram reparadoras (cerca de 170 mil). Em 2015, foram realizadas 1,5 milhão de cirurgias plásticas, sendo 600 mil reparadoras – elevando para 40% do total.
As mulheres são, normalmente, as que mais procuram por esses procedimentos – e, muitas vezes, porque elas se tornam essenciais para começar a curar traumas físicos e até psicológicos.
Saúde pública
Em março passado, foi regulamentada uma lei que permite ao Sistema Único de Saúde em todo o Brasil atender gratuitamente os casos em que a mulher sofreu violência doméstica e precisa de cirurgia plástica reparadora.
O SUS já disponibiliza há tempos a cirurgia plástica em outros casos de reparação. O sistema público cobre, por exemplo, plásticas para fenda palatina e lábio leporino, implantes de silicone em mulheres que passaram por câncer de mama ou operação de redução dos seios naquelas que desenvolvem problemas de coluna devido ao peso da mama.
“A Organização Mundial de Saúde define saúde como bem-estar físico e mental. Portanto, se um paciente está infeliz com alguma alteração estética, considera-se, sim, um problema de saúde”, lembra Marco Túlio Rodrigues da Cunha, cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Mais recentemente, também vem crescendo o número de pessoas que procuram as plásticas reparadoras por terem se submetido à cirurgia bariátrica – e, posteriormente, evoluíram para uma condição em que a flacidez e a sobra de tecidos decorrentes da perda de peso causaram algum grau de prejuízo à imagem ou às atividades de rotina.
Com a realização da operação, muitos pacientes passam a ter uma grande melhora na saúde – mas a melhoria diária da qualidade de vida também faz necessário lidar com o excesso de pele na região do abdômen, dorsal, coxas e braços.
O caso é que, após o emagrecimento e estabilização, que ocorre em torno de 18 meses após a bariátrica, o paciente precisa não só de uma correção, mas de um plano de tratamento que pode envolver até cinco cirurgias, segundo a SBCP (já que esses casos são especiais e as estruturas anatômicas têm alterações e fragilidades que podem ser parciais dependendo de cada indivíduo).
“Os cirurgiões plásticos membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica estão capacitados para a execução da maioria dos procedimentos reparadores”, diz Cunha.
Mas não existe, claro, um “toque mágico” que resolva todas as questões. “Cabe ao cirurgião orientar o paciente detalhada e claramente que toda cirurgia tem limitações – e, muitas vezes, acontece uma troca de uma alteração maior por um sinal ou cicatriz mais disfarçado”, explica o cirurgião plástico.
O que muitos pacientes buscam, no fim, é se sentirem bem novamente – e a cirurgia reparadora pode não significar vida plenamente normal, mas uma vida nova e um caminho para se sentirem recuperados após situações tão extremas.
Fonte: SBCP